O Grande Debate: Tarifaço de Trump tem prazo de validade?
Na quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos anunciou tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil; nova alíquota entra em vigor a partir do dia 1º de agosto
A ex-senadora e jornalista Ana Amélia Lemos e a advogada Soraia Mendes discutiram, nesta sexta-feira (11), em O Grande Debate (de segunda a sexta-feira, às 23h), os impactos e os desdobramentos do chamado tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A medida prevê a aplicação de uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Para Ana Amélia, a decisão do republicano não tem caráter comercial, mas político.
“Trump quis, com uma só cajadada, matar dois coelhos: atacar o Supremo Tribunal Federal, o sistema judiciário brasileiro e também o atual governo”, disse.
A ex-senadora acredita que a medida visa defender o aliado Jair Bolsonaro, que enfrenta processo no STF, além de ser uma reação à atuação do Brasil nos Brics, "que ele acha que tem por objetivo esvaziar o papel do dólar no comércio internacional".
A jornalista também defendeu uma abordagem diplomática e cautelosa por parte do governo brasileiro.
“O governo vai agora tentar, pela via negocial, encontrar uma saída. Já sinaliza com decreto sobre reciprocidade, que, na verdade, é mais do que retaliação comercial", disse.
Já a advogada Soraia Mendes avaliou que o método de Trump, baseado em "chantagem, ameaças e imposição de força econômica", não tem prazo de validade.
“É um método que ele emprega corriqueiramente em praticamente todos os assuntos. Já vimos isso no governo Trump 1, e agora volta com mais força”, declarou.
De acordo com Soraia, essa forma de atuação transcende o próprio Trump e pode influenciar seus "sucessores".
A advogada ainda destacou o uso de redes sociais como instrumento de política externa por parte do presidente norte-americano, inclusive em temas graves como guerras e genocídios.
“A gente está num período bastante complexo das relações políticas, diplomáticas e econômicas. Há cada vez mais necessidade de um novo consenso internacional", finalizou.
EUA X Brasil
Trump justificou a tarifa imposta ao Brasil citando "ordens de censuras secretas e injustas para plataformas de mídia social dos EUA" e mencionou o que chamou de "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A justificativa foi vista por analistas como uma clara interferência na política interna brasileira. O presidente Lula reagiu prontamente, afirmando que usará a lei de reciprocidade, aprovada em abril, que permite ao Brasil retaliar com tarifas caso Trump não recue.
Lula também contestou os dados apresentados pelo republicano sobre o déficit comercial entre os países, afirmando que há, na verdade, um superávit para os EUA de 410 bilhões de dólares nos últimos 15 anos.
Impactos econômicos e diplomáticos
Economistas e diplomatas alertam para os riscos de uma escalada no conflito comercial.
Os Estados Unidos são o 2º maior parceiro comercial do Brasil, que tende a sofrer mais com a situação. Há preocupações sobre a capacidade de alguns setores, especialmente os de produtos de alto valor agregado, encontrarem novos mercados.
O Nobel de Economia Paul Krugman, em entrevista exclusiva à CNN, classificou a medida do líder americano como "um ataque frontal à democracia no Brasil".
Krugman argumentou que a decisão não tem fundamento econômico e é puramente política, visando proteger um grupo alinhado a Trump no Brasil.
O Nobel aconselhou o Brasil a reagir com tarifas recíprocas, argumentando que o país não é pequeno e tem condições de enfrentar os EUA. Ele também alertou que tentativas de negociação com Trump tendem a ser infrutíferas, pois o presidente norte-americano vê concessões como sinal de fraqueza.
A situação coloca o Brasil em uma posição delicada, tendo que equilibrar a defesa de sua soberania e instituições democráticas com a necessidade de proteger suas relações comerciais com uma das maiores economias do mundo.